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Cigarro ainda é vilão que leva ao surgimento de doenças

Segunda droga que mais mata no mundo, seu consumo faz surgir inúmeras doenças, mas vício pode ser tratado

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Dentro das mais de 4 mil substâncias químicas em um cigarro, 250 delas são prejudiciais e 50 são conhecidas por causar câncer - Foto: Divulgação

Apesar de saber dos riscos para a saúde, milhares de jovens e adultos ainda fazem uso diário do tabaco, segunda droga que mais mata no mundo – a primeira é o álcool. E este 29 de agosto é o Dia Nacional do Combate ao Fumo, data criada para alertar sobre os perigos do tabaco para a saúde da população. Mesmo com a diminuição nos números de fumantes no Brasil, é estimado que 20 milhões de pessoas fumem – 10% da população, de acordo com o último estudo Vigitel. Desse número, 3% dos fumantes consomem mais de 20 cigarros por dia.

O cigarro é responsável por uma em cada 10 mortes no mundo e metade das mortes causadas pelo fumo ocorre em apenas quatro países. China, Índia, Estados Unidos e Rússia concentram mais da metade das mortes atribuídas ao tabaco, de acordo com estudo divulgado em 2015 pela publicação científica The Lancet. O Brasil, por sua vez, aparece na pesquisa – que analisou 195 países entre 1990 e 2015 – como “uma história de sucesso digna de nota”, por causa da redução significativa no número de fumantes nos últimos anos. Em 25 anos, o Brasil viu a porcentagem de fumantes diários despencar de 29% para 12%, entre homens, e de 19% para 8%, entre mulheres.

O País ocupa o oitavo lugar no ranking de número absoluto de fumantes (7,1 milhões de mulheres e 11,1 milhões de homens); o hábito tende a ser mais frequente entre jovens, adultos de 45 a 64 anos e entre pessoas com baixa escolaridade.

O mecânico Aurélio Ricardo da Silva, 46 anos, despertava às 3h da manhã todos os dias. Sonolento, saía da cama, pegava o maço de cigarros com filtro vermelho e ia para a varanda. Fumava e voltava a dormir, para levantar às 6 horas. Ao longo do dia, consumia mais 59 cigarros. Aurélio viveu assim por 26 anos. “Uma vez até resolvi parar e fiquei sem fumar por um tempo, mas depois voltei de bobeira”, confessa. A libertação do fumo ocorreu em 2004, quando um amigo o chamou para fazer um tratamento. “Fiz e parei. No fundo, o que mais contou foi a força de vontade”, diz. Atualmente, ele faz parte de um grupo que tem aumentado no Brasil: o de ex-fumantes.

TÓXICO

O cigarro tem mais de 4,7 mil substâncias presentes em sua composição e está na origem de 90% dos casos de câncer de pulmão no mundo. Ele também se relaciona a várias doenças do sistema cardiovascular, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Segundo levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), dentro das mais de 4 mil substâncias químicas em um cigarro, 250 delas são prejudiciais e 50 são conhecidas por causar câncer. São 14 os tumores malignos associados ao uso de tabaco: câncer de pulmão, de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, intestino, rim, bexiga, colo de útero, ovário e alguns tipos de leucemia.

Ainda segundo a OMS, o tabaco mata metade de seus usuários e pode causar doenças que atingem o coração e os pulmões, como é o caso da doença pulmonar obstrutiva crônica, a DPOC, doença silenciosa e de diagnóstico desafiador que atinge principalmente aqueles que fumaram por grande parte de sua vida. A DPOC leva a óbito, em média, uma pessoa a cada 10 segundos e seus principais sintomas são tosse, catarro, cansaço e falta de ar.

“A DPOC não é uma doença única, é um termo que abrange a bronquite crônica e o enfisema pulmonar. O que acontece nessa condição é uma inflamação dos brônquios, que obstrui a passagem de ar e causa a destruição dos alvéolos, diminuindo a capacidade respiratória do paciente e deixando-o cada vez mais debilitado”, explica o pneumologista Alex Macedo, mestre em pneumologia.

Em geral, o jovem começa a fumar aos 15 anos. O fato preocupa, pois quanto maior o tempo de exposição ao tabaco, maior o risco de desenvolver doenças. O fumo também diminui o pique para correr, nadar e até dançar na balada. Deixa os dentes amarelados, a pele ressecada, causa impotência e envelhecimento precoce.

Em geral, o jovem começa a fumar para imitar os amigos ou uma pessoa que admire. “Querem se parecer com alguém de dentro do grupo. Problemas emocionais também os levam a fumar”, afirma Silvia Cury Ismael, gerente dos serviços de psicologia e coordenadora do Programa de Controle do Fumo do Hospital do Coração (HCor), de São Paulo.

Segundo a especialista, a nicotina diminui a ansiedade e o consumo passa a ser inconsciente. “Entre os 4.720 componentes químicos do cigarro, com metais pesados e cancerígenos, a nicotina é a responsável pela dependência, que ocorre com três meses de uso”.

Apesar de existir lei que proíbe venda de cigarro para menores de idade, comprar um maço não é tarefa difícil. Cerca de 55% dos jovens os adquire em bares. “Conseguem também em casa, com algum parente. O fumante não costuma contar a quantidade de cigarros no maço e não percebe se sumir um. Nos estabelecimentos, a lei existe, mas dificilmente é fiscalizada”, diz a psicóloga.

O sentimento de culpa por fumar na frente dos filhos jovens fez Nadir Souza, de 49 anos, parar de fumar. “Eu fumava muito e, um dia, peguei meu filho mais novo acendendo um cigarro. E ele disse que, se eu podia, ele também. Foi muito difícil, mas depois disso consegui me livrar do vício e ajudar meus filhos”.

PASSIVOS

O tabagismo está na origem de 90% de todos os casos de câncer de pulmão no mundo, e 1/3 entre os 10% restantes são os chamados fumantes passivos, situação que amplia em cerca de 20 vezes o risco de surgimento da doença. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil registra 28.220 novos casos de tumores pulmonares ao ano. Os malefícios não são notados apenas a longo prazo. Algumas alterações no organismo podem ser percebidas imediatamente após a interrupção do fumo cotidiano.

O acidente vascular cerebral (AVC) é a doença que mais causa mortes no Brasil e chega a ser responsável por mais de 100 mortes por ano, além de ser a maior causadora de incapacidade do mundo. Um dos principais fatores de risco da doença é o tabagismo. Os fumantes têm risco duas vezes maior de desenvolver um quadro de AVC em comparação com pessoas que não fumaram ao longo da vida. Estima-se que aproximadamente 20% dos casos de AVC estão relacionados ao tabagismo. “Aumenta a incidência de aterosclerose e o risco de infarto do miocárdio ou AVC [Acidente Vascular Cerebral]”, explica o cardiologista Hélio Castello.

Além dos riscos à saúde do fumante, com a inalação de diversos produtos químicos – muitos deles cancerígenos –, a fumaça do cigarro também atinge o chamado fumante passivo. “A maior parte dos malefícios não é causada pela fumaça tragada, mas a que fica queimando na ponta do cigarro”, explica o pneumologista Camilo Faoro. De acordo com a OMS, a fumaça do cigarro, em ambiente de trabalho, mata cerca de 200 mil pessoas todo ano.

Além de fazer mal, fumar perto de outras pessoas também é visto como falta de educação, conforme observa a estudante Natalia Estancione, de 26 anos: “Eu não falo nada quando fumam perto de mim, mas acho uma tremenda falta de educação. Não sou obrigada a inalar a fumaça dos outros”.

REDE PÚBLICA

A Secretaria Municipal de Saúde oferece o tratamento para pacientes que desejam largar o vício da nicotina, por meio de acompanhamento com equipe multidisciplinar de profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, farmacêuticos e outros.

O dependente pode procurar a unidade básica de saúde mais próxima da residência para tratamento ou será encaminhado para um dos Grupos de Tabagismo. Inicialmente, o paciente passa por uma avaliação para considerar se ele é um fumante leve, moderado ou pesado.

Após a avaliação, o tratamento consiste em consultas individuais ou sessões de grupo de apoio, nas quais o paciente fumante entende o papel do cigarro na sua vida. São fornecidos manuais e medicações gratuitas para reduzir o sintoma de síndrome de abstinência.

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